1º Fórum MUTIM Goethe Institut Lisboa

O 1º. Fórum MUTIM realizou-se nos dias 22, 23 e 24 de novembro, no Goethe-Institut Lisboa.

Convidámos a comunidade de profissionais do cinema e audiovisual a participar no evento onde foram apresentados os resultados finais do estudo "A Condição da Mulher no Cinema e Audiovisual em Portugal".

O fórum abriu com a apresentação de Jana Binder (Goethe-Institut Portugal), Esperanza Ibáñez (Netflix), Rita Capucho (XX Element Project), Susana Gato (APIT),  Leonor Silveira (ICA) e Paula Miranda (MUTIM).

SESSÃO DE ABERTURA E APRESENTAÇÃO DO ESTUDO

O estudo “A Condição da Mulher nos Sectores do Cinema e Audiovisual” foi realizado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC) da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, e é uma encomenda da MUTIM em parceria com a XX Element Project - Associação Cultural, que conta com apoio da Netflix, do ICA e da APIT.

Pela primeira vez em Portugal apresentaram-se dados objectivos sobre os desafios que as mulheres enfrentam neste sector.

  • “41,6% das Mulheres afirmam ter sido vítimas de discriminação de género e 37,6% de assédio no local de trabalho e/ou no desempenho de funções.”

  • “Os/As profissionais dos sectores, em especial as Mulheres, reconhecem que as narrativas produzidas e realizadas na atualidade não são plurais em termos de representações de género e étnico/raciais e, quando abordam personagens e histórias que incluem tais representações, recorrem à estereotipação.”

  • “A análise dos 16 concursos promovidos pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual em 2022 revela que o volume de candidaturas de proponentes masculinos é substancialmente superior e existem concursos em que nenhum projeto liderado por uma Mulher é financiado.”

  • há uma muito maior proporção de Homens face a Mulheres a beneficiar de salários mais elevados no sector e muito mais Mulheres do que Homens nos escalões remuneratórios mais baixos;”

PAINEL I

“OBJETIVO 50/50: Casos de sucesso e outras realidades”

Paula Miranda (MUTIM), Leonor Silveira (ICA), Iris Zappe-Heller (Inst. Cinema da Áustria), Sara Mansanet Royo (CIMA)

O primeiro painel que abriu a discussão no fórum trouxe a experiência de Iris Zappe-Heller, vice-presidente do Instituto de Cinema da Áustria, onde a paridade de género no sector do cinema e audiovisual é, desde 2023, uma realidade.

Sara Manzanet Royo trouxe o percurso e as ferramentas da CIMA, associação que promove as profissionais do sector em Espanha e que mantém estreito diálogo com o governo espanhol na promoção do cinema feito por mulheres no seu país.

Leonor Silveira, representante do ICA, mostrou apreço pelas experiências relatadas, concordando com a necessidade de implementação de medidas que ajudem a mitigar as disparidades reveladas no estudo “A Condição da Mulher no Sector do Cinema e do Audiovisual”.

PAINEL II

“Qual a responsabilidade das empresas e instituições?”

Reuniundo uma panóplia de associações e entidades em representação de vários profissionais, festivais e instituições que operam em Portugal na área do cinema e audiovisual, a conversa do segundo painel convergiu em torno das dificuldades que se colocam nas carreiras de mulheres profissionais do sector, assim como a representação de estereótipos no ecrã.

Entre outras temáticas e, confirmando os dados do estudo, foi referido que os cargos de chefia nas principais áreas do sector são maioritariamente ocupados por homens e dificilmente abertos a lideranças femininas. Esta lacuna de mulheres nas chefias é mais um factor que promove a falta de uma representação realista e diversa de personagens femininas no écrã.

A programação de filmes de origens diversas e com narrativas que saem de um formato normativo foi também discutida, sublinhando a importância desse tipo de oferta, variada e diversa, para a formação educativa e cultural dos públicos mais jovens.

Lançamento do diretório de profissionais associadas da MUTIM

Catarina Duff Burnay, coordenadora do estudo, investigadora do Centro de Estudos Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa

KEY TAKE AWAYS:

  • “cerca de 60% (das Mulheres profissionais do cinema e audiovisual) afirma ter desistido da carreira com a chegada da maternidade.

    Nos casos em que os dois membros do casal trabalham no mesmo sector de atividade e sentiram necessidade de reduzir, desistir ou mudar de atividade por motivos de parentalidade, são as Mulheres (76,7%) que mais frequentemente o fazem;”

  • “A infantilização da Mulher pelo Homem e a solidariedade/“clubismo” dos Homens, em particular por parte daqueles que ocupam posições de decisão, são dois indicadores que emergem do estudo.

    Tal não é visto como uma forma de discriminação “aberta”, mas como um facilitismo, um coloquialismo nas relações entre Homens que resulta numa perceção por parte das Mulheres de estarem frequentemente do “lado de fora” e de sentirem a necessidade de provar ou justificar o seu mérito;”

Inês Oliveira (APR), Marta Pais Lopes (APAD), Tota Alves (MUTIM), Rita Capucho (XX Element Project e MUTIM), Susana Gato (APIT),  Irina Raimundo (IndieLisboa), Ana Paula Rocha (Academia Portuguesa de Cinema)

No final do primeiro dia do fórum foi oficialmente publicado, no site da MUTIM, um diretório composto pelos perfis das suas associadas, organizados por cargo profissional.

O diretório, que cresce de dia para dia, pretende aumentar a visibilidade do trabalho das mulheres que trabalham no cinema e audiovisual em Portugal assim como fomentar a contratação das profissionais associadas.

MESA REDONDA

“Cinemas do meu país: história, arte e associativismo de mulheres em Portugal“

Vanda Gorjão (FCSH-UNL), Carla Baptista (FCSH-UNL), Mariana Liz (FL-UL e MUTIM), Ana Cristina Pereira - Kitty Furtado (CECS-UM), Lígia Ferraz (FL-UBI).

Falando de representatividade, diversidade e associativismo, o terceiro painel do fórum trouxe questões contundentes como a falta de diversidade étnica e racial nas equipas técnicas e artísticas do sector e o assédio no local de trabalho.

SESSÃO COM VERÓNICA FERNÁNDEZ

Numa sessão exclusiva para associadas MUTIM, Verónica Fernández, Directora de conteúdos de ficção da Netflix Espanha e Portugal liderou um Q&A onde foram postas questões como a sustentabilidade das produções da Netflix, o tamanho dos orçamentos dos seus filmes e séries, qual a fase ideal para apresentar um projecto e como o fazer.

A sessão foi presencial com transmissão online e contou com a presença de várias associadas pelo país fora, de áreas diversas, todas elas com interesse em criar projetos que se adaptem ao formato da plataforma.

MASTERCLASS DE DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA COM LEONOR TELES

O fórum encerrou com uma masterclass de direção de fotografia ministrada por Leonor Teles, que falou do seu processo pessoal na criação de um visual para cada projeto em que trabalha, quer seja seu ou não. A masterclass foi aberta ao público e